sábado, 13 de agosto de 2011

Sugestões Fotográficas (Parte 3): Ângulo e Perspectiva

Como vimos nos tópicos anteriores (Sugestões Fotográficas 1 e 2), a fotografia envolve o controle sobre o tempo (o “congelamento” do instante) e o espaço (o enquadramento de que se deseja fotografar). Neste post, abordaremos dois conceitos que, mesmo importantes, são muitas vezes confundidos: ângulo e perspectiva. Não, eles não são sinônimos. Comecemos pelo ângulo: ele diz respeito à área coberta pela fotografia. Uma fotografia com grande ângulo cobre um espaço maior da cena, ao passo que pequenos ângulos possuem menor cobertura. O que isso significa na prática?


    Imagem 1


    Imagem 2


Na imagem 1, tirada no Cemitério da Consolação em São Paulo, nota-se que há cobertura de uma área relativamente maior que na imagem 2. Vejam que aparecem detalhes das árvores e a base do túmulo. Na imagem 2, na qual utilizei um zoom maior, o mesmo local foi enfocado de maneira mais próxima, cortando os detalhes da imagem anterior. A imagem 1 possui um grande ângulo, a 2 um ângulo mais circunscrito. Não existe certo ou errado nas opções (grande, médio ou pequeno ângulo), tudo depende do que você quer representar. Suponha que, numa cena muito poluída, você queira dar um close-up no rosto de uma pessoa para cortar os elementos indesejáveis. Nesse caso, o ângulo mais circunscrito justifica-se (embora possa haver distorções do rosto devido à proximidade, o que constitui uma “aberração”, digamos assim, das lentes fotográficas). Por outro lado, suponha que você queira tirar a fotografia de uma paisagem rural, cobrindo a maior quantidade possível de detalhes. Nesse caso, um grande ângulo seria o mais apropriado. Em câmeras semi-profissionais e profissionais, em que é possível trocar as lentes da máquina (diferentemente da maioria das compactas, com célebres exceções), pode-se optar por lentes grande-angulares (menores que 50mm), convencionais (entre 50mm e 70mm) e teleobjetivas (com mais de 70mm, que podem cobrir 300mm para mais, do tipo que são usadas em campos de futebol). Talvez seja legal abrir futuramente um post para os tipos de lentes, mas isso fica para depois.

Por fim, a perspectiva diz respeito à posição a partir da qual você deseja tirar a foto de determinada cena. Um mesmo objeto pode ser abordado de diferentes perspectivas (inferior, superior, lateral e por aí vai), o que gera diferentes efeitos, de acordo com suas intenções. É muito comum, por exemplo, os fotógrafos mais leigos tirarem fotos de crianças e/ou animais da perspectiva dos adultos, ou seja, de cima para baixo. Isso não é muito legal (a menos que seja a intenção do fotógrafo), já que o objeto representado é desvalorizado e inferiorizado, criando a impressão de opressão. Se você preferir uma perspectiva mais neutra, é interessante agachar ou “descer” até o nível do objeto que se deseja fotografar, de forma que ele fique no mesmo nível que a câmera. Isso por si desconstrói o clima de opressão sugerido acima. Agora suponha que você deseje supervalorizar o objeto representado, querendo fazê-lo maior ou mais imponente do que é de fato. Nesse caso, é possível tirar a foto de baixo para cima. Cria-se uma sensação de vertigem e superioridade. Isso é comum não apenas em fotografia, como também na televisão e no cinema. De qualquer forma, em síntese, a perspectiva dá sentido às imagens, sendo bacana o fotógrafo pensar no que deseja sugerir àquele que observa a fotografia. Por isso, andar um pouquinho para o lado, agachar, deitar ou subir num tronco para fotografar fazem toda a diferença. Tentem, inventem!

sábado, 6 de agosto de 2011

Sugestões Fotográficas (Parte 2): Controle de Espaço

Como vimos, a fotografia envolve a questão do controle do tempo. No entanto, outro procedimento importante é a delimitação de espaço realizada pelo fotógrafo. É preciso lembrar que o resultado final da imagem fotográfica é retangular. O que incluímos ou excluímos no interior do retângulo é significativo, na medida em que, geralmente, enquadramos aquilo que atribuímos importância e excluímos o que não interessa (embora, como aponta o historiador francês Phillipe Dubois em “O Ato Fotográfico”, a exclusão também possa ter significado, ressaltando um erotismo – não apenas em sentido sexual – da fotografia). De qualquer forma, incluir ou excluir do enquadramento implica em atribuição de significado. Você pode ressaltar uma paisagem considerada bela não enquadrando, por exemplo, o detalhe de um lago poluído ou de árvores desmatadas. Ou vice-versa, dependendo da intenção do fotógrafo. Portanto, o que vale é sempre sua intenção. Um equívoco comum em fotografia é produzir uma imagem considerando-a um grande sucesso e, ao vê-la no computador ou no papel fotográfico (na era da fotografia analógica, isto é, que utiliza filmes), verificar que, ao lado de seu lindo cachorrinho, apareceu um montinho desagradável de fezes que você nunca percebeu no momento de produção. Nas imagens abaixo, nota-se um equívoco e como ele poderia ser corrigido por meio e um procedimento simples. Na imagem 1, somente para citar a típica (mas linda) cena de um pôr-do-sol, percebe-se que, na parte inferior, apareceram detalhes da cidade que poluem a foto e desviam a atenção do crepúsculo (além disso, o horizonte está torto). Na imagem 2, a sugestão de corte eliminaria o problema.


                                          Imagem 1


                                          Imagem 2


Percebe-se que, para corrigir problemas de enquadramento, procedimentos simples podem ser adotados, como reenquadrar a cena movendo-se um pouco para a esquerda ou para a direita, abaixando-se ou subindo numa pedra (ou no carro... como já o relatou o fotógrafo norte-americano Ansel Adams). O ideal é estudar a cena e selecionar o que é tema principal e o que pode poluí-la ou desviar a atenção em relação ao que atribuímos significado. Criamos o conceito em nossa mente e, somente após isso, enquadramos e compomos a cena. O estudo da cena é importante, já que nosso olho é seletivo: nunca vemos a cena como um todo, já que o olho foca-se em determinado objeto, desfocando, consequentemente, os demais. Por isso não percebemos de súbito os problemas de determinada cena e, ao ver o resultado fotográfico, acabamos nos decepcionando. Por isso, estudar a cena um pouquinho nunca é demais e acaba dando resultados significativos.