domingo, 17 de abril de 2011

Sugestões Fotográficas (Parte 1): Controle de Tempo

Pensando com os meus botões num tedioso (e por isso saboroso) domingo, resolvi abrir uma série de posts enfocando sugestões fotográficas. Sugestões, não modelos ou receitas de bolo. Hoje em dia, há gente e revistas demais dizendo como fotografar corretamente, lembrando que composições "corretas" nada mais são que convenções de um espaço e tempo determinado. Mas isso por si merece um post à parte.

Segundo teóricos da fotografia como Phillipe Dubois, Arlindo Machado e Boris Kossoy, o "que" da fotografia em relação às outras formas de arte é justamente o controle de duas variáveis fundamentais: o tempo e o espaço. Cada uma vale um post. Comecemos pelo tempo: no instante em que o fotógrafo aperta o disparador da máquina e o mecanismo denominado obturador (que controla quanto tempo o filme/sensor receberá luminosidade) age, realiza-se uma operação de corte de um tempo contínuo. Nesse corte, o fotógrafo seleciona o que lhe interessa e aplica sentido a uma imagem.

Um dos mais célebres nomes da história da fotografia, o francês Henri Cartier-Bresson (1908 - 2004), era justamente um "mestre do instante". Segundo Bresson, toda cena teria um ápice (um clímax, como na novela das 8) que seria revelado num momento específico. Caberia ao fotógrafo, portanto, no contínuo do tempo que constitui a cena, apertar o disparador justamente no momento "correto" (isto é, naquele concebido pelo fotógrafo) para congelar o tempo. Isso não é (e não deve ser) puro ato de sorte, mas uma concepção do artista. Para isso, como o fazia Cartier-Bresson, era necessário antecipar e, antes da própria cena ocorrer, no dizer do fotógrafo norte-americano Ansel Adams (1902 - 1984), visualizá-la mentalmente.


Cartier-Bresson: o "mestre do instante".

Atualmente, com todas as facilidades que as câmeras digitais oferecem (sejam compactas ou profissionais), há uma opção cômoda e perigosa: tirar fotos contínuas num segundo, cujo número pode variar segundo o modelo e a marca. Com isso, no dizer de Adams, é arriscado transferirmos para o dedo o nosso cérebro, já que o instante "correto" não seria fruto do conceito, mas da sorte. É claro que todo bom fotógrafo seleciona imagens e há muitas fotografias ruins que são descartadas. Seleção é parte do ser fotógrafo. Mas a câmera não deve ser uma metralhadora (como o lembrou numa metáfora a ensaísta norte-americana Susan Sontag), e sim um instrumento plástico que atende à concepção do fotógrafo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário