Como vimos nos tópicos anteriores (Sugestões Fotográficas 1 e 2), a fotografia envolve o controle sobre o tempo (o “congelamento” do instante) e o espaço (o enquadramento de que se deseja fotografar). Neste post, abordaremos dois conceitos que, mesmo importantes, são muitas vezes confundidos: ângulo e perspectiva. Não, eles não são sinônimos. Comecemos pelo ângulo: ele diz respeito à área coberta pela fotografia. Uma fotografia com grande ângulo cobre um espaço maior da cena, ao passo que pequenos ângulos possuem menor cobertura. O que isso significa na prática?
Imagem 1
Imagem 2
Na imagem 1, tirada no Cemitério da Consolação em São Paulo, nota-se que há cobertura de uma área relativamente maior que na imagem 2. Vejam que aparecem detalhes das árvores e a base do túmulo. Na imagem 2, na qual utilizei um zoom maior, o mesmo local foi enfocado de maneira mais próxima, cortando os detalhes da imagem anterior. A imagem 1 possui um grande ângulo, a 2 um ângulo mais circunscrito. Não existe certo ou errado nas opções (grande, médio ou pequeno ângulo), tudo depende do que você quer representar. Suponha que, numa cena muito poluída, você queira dar um close-up no rosto de uma pessoa para cortar os elementos indesejáveis. Nesse caso, o ângulo mais circunscrito justifica-se (embora possa haver distorções do rosto devido à proximidade, o que constitui uma “aberração”, digamos assim, das lentes fotográficas). Por outro lado, suponha que você queira tirar a fotografia de uma paisagem rural, cobrindo a maior quantidade possível de detalhes. Nesse caso, um grande ângulo seria o mais apropriado. Em câmeras semi-profissionais e profissionais, em que é possível trocar as lentes da máquina (diferentemente da maioria das compactas, com célebres exceções), pode-se optar por lentes grande-angulares (menores que 50mm), convencionais (entre 50mm e 70mm) e teleobjetivas (com mais de 70mm, que podem cobrir 300mm para mais, do tipo que são usadas em campos de futebol). Talvez seja legal abrir futuramente um post para os tipos de lentes, mas isso fica para depois.
Por fim, a perspectiva diz respeito à posição a partir da qual você deseja tirar a foto de determinada cena. Um mesmo objeto pode ser abordado de diferentes perspectivas (inferior, superior, lateral e por aí vai), o que gera diferentes efeitos, de acordo com suas intenções. É muito comum, por exemplo, os fotógrafos mais leigos tirarem fotos de crianças e/ou animais da perspectiva dos adultos, ou seja, de cima para baixo. Isso não é muito legal (a menos que seja a intenção do fotógrafo), já que o objeto representado é desvalorizado e inferiorizado, criando a impressão de opressão. Se você preferir uma perspectiva mais neutra, é interessante agachar ou “descer” até o nível do objeto que se deseja fotografar, de forma que ele fique no mesmo nível que a câmera. Isso por si desconstrói o clima de opressão sugerido acima. Agora suponha que você deseje supervalorizar o objeto representado, querendo fazê-lo maior ou mais imponente do que é de fato. Nesse caso, é possível tirar a foto de baixo para cima. Cria-se uma sensação de vertigem e superioridade. Isso é comum não apenas em fotografia, como também na televisão e no cinema. De qualquer forma, em síntese, a perspectiva dá sentido às imagens, sendo bacana o fotógrafo pensar no que deseja sugerir àquele que observa a fotografia. Por isso, andar um pouquinho para o lado, agachar, deitar ou subir num tronco para fotografar fazem toda a diferença. Tentem, inventem!
sábado, 13 de agosto de 2011
sábado, 6 de agosto de 2011
Sugestões Fotográficas (Parte 2): Controle de Espaço
Como vimos, a fotografia envolve a questão do controle do tempo. No entanto, outro procedimento importante é a delimitação de espaço realizada pelo fotógrafo. É preciso lembrar que o resultado final da imagem fotográfica é retangular. O que incluímos ou excluímos no interior do retângulo é significativo, na medida em que, geralmente, enquadramos aquilo que atribuímos importância e excluímos o que não interessa (embora, como aponta o historiador francês Phillipe Dubois em “O Ato Fotográfico”, a exclusão também possa ter significado, ressaltando um erotismo – não apenas em sentido sexual – da fotografia). De qualquer forma, incluir ou excluir do enquadramento implica em atribuição de significado. Você pode ressaltar uma paisagem considerada bela não enquadrando, por exemplo, o detalhe de um lago poluído ou de árvores desmatadas. Ou vice-versa, dependendo da intenção do fotógrafo. Portanto, o que vale é sempre sua intenção. Um equívoco comum em fotografia é produzir uma imagem considerando-a um grande sucesso e, ao vê-la no computador ou no papel fotográfico (na era da fotografia analógica, isto é, que utiliza filmes), verificar que, ao lado de seu lindo cachorrinho, apareceu um montinho desagradável de fezes que você nunca percebeu no momento de produção. Nas imagens abaixo, nota-se um equívoco e como ele poderia ser corrigido por meio e um procedimento simples. Na imagem 1, somente para citar a típica (mas linda) cena de um pôr-do-sol, percebe-se que, na parte inferior, apareceram detalhes da cidade que poluem a foto e desviam a atenção do crepúsculo (além disso, o horizonte está torto). Na imagem 2, a sugestão de corte eliminaria o problema.
Imagem 1
Imagem 2
Percebe-se que, para corrigir problemas de enquadramento, procedimentos simples podem ser adotados, como reenquadrar a cena movendo-se um pouco para a esquerda ou para a direita, abaixando-se ou subindo numa pedra (ou no carro... como já o relatou o fotógrafo norte-americano Ansel Adams). O ideal é estudar a cena e selecionar o que é tema principal e o que pode poluí-la ou desviar a atenção em relação ao que atribuímos significado. Criamos o conceito em nossa mente e, somente após isso, enquadramos e compomos a cena. O estudo da cena é importante, já que nosso olho é seletivo: nunca vemos a cena como um todo, já que o olho foca-se em determinado objeto, desfocando, consequentemente, os demais. Por isso não percebemos de súbito os problemas de determinada cena e, ao ver o resultado fotográfico, acabamos nos decepcionando. Por isso, estudar a cena um pouquinho nunca é demais e acaba dando resultados significativos.
Imagem 1
Imagem 2
Percebe-se que, para corrigir problemas de enquadramento, procedimentos simples podem ser adotados, como reenquadrar a cena movendo-se um pouco para a esquerda ou para a direita, abaixando-se ou subindo numa pedra (ou no carro... como já o relatou o fotógrafo norte-americano Ansel Adams). O ideal é estudar a cena e selecionar o que é tema principal e o que pode poluí-la ou desviar a atenção em relação ao que atribuímos significado. Criamos o conceito em nossa mente e, somente após isso, enquadramos e compomos a cena. O estudo da cena é importante, já que nosso olho é seletivo: nunca vemos a cena como um todo, já que o olho foca-se em determinado objeto, desfocando, consequentemente, os demais. Por isso não percebemos de súbito os problemas de determinada cena e, ao ver o resultado fotográfico, acabamos nos decepcionando. Por isso, estudar a cena um pouquinho nunca é demais e acaba dando resultados significativos.
sábado, 30 de abril de 2011
Ele vive... ele vive!
Frankenstein: criado por mãos humanas (demasiado humanas), ele vive para aterrorizar os viventes...
Vocês conhecem algum Frankenstein?
domingo, 17 de abril de 2011
Sugestões Fotográficas (Parte 1): Controle de Tempo
Pensando com os meus botões num tedioso (e por isso saboroso) domingo, resolvi abrir uma série de posts enfocando sugestões fotográficas. Sugestões, não modelos ou receitas de bolo. Hoje em dia, há gente e revistas demais dizendo como fotografar corretamente, lembrando que composições "corretas" nada mais são que convenções de um espaço e tempo determinado. Mas isso por si merece um post à parte.
Segundo teóricos da fotografia como Phillipe Dubois, Arlindo Machado e Boris Kossoy, o "que" da fotografia em relação às outras formas de arte é justamente o controle de duas variáveis fundamentais: o tempo e o espaço. Cada uma vale um post. Comecemos pelo tempo: no instante em que o fotógrafo aperta o disparador da máquina e o mecanismo denominado obturador (que controla quanto tempo o filme/sensor receberá luminosidade) age, realiza-se uma operação de corte de um tempo contínuo. Nesse corte, o fotógrafo seleciona o que lhe interessa e aplica sentido a uma imagem.
Um dos mais célebres nomes da história da fotografia, o francês Henri Cartier-Bresson (1908 - 2004), era justamente um "mestre do instante". Segundo Bresson, toda cena teria um ápice (um clímax, como na novela das 8) que seria revelado num momento específico. Caberia ao fotógrafo, portanto, no contínuo do tempo que constitui a cena, apertar o disparador justamente no momento "correto" (isto é, naquele concebido pelo fotógrafo) para congelar o tempo. Isso não é (e não deve ser) puro ato de sorte, mas uma concepção do artista. Para isso, como o fazia Cartier-Bresson, era necessário antecipar e, antes da própria cena ocorrer, no dizer do fotógrafo norte-americano Ansel Adams (1902 - 1984), visualizá-la mentalmente.
Segundo teóricos da fotografia como Phillipe Dubois, Arlindo Machado e Boris Kossoy, o "que" da fotografia em relação às outras formas de arte é justamente o controle de duas variáveis fundamentais: o tempo e o espaço. Cada uma vale um post. Comecemos pelo tempo: no instante em que o fotógrafo aperta o disparador da máquina e o mecanismo denominado obturador (que controla quanto tempo o filme/sensor receberá luminosidade) age, realiza-se uma operação de corte de um tempo contínuo. Nesse corte, o fotógrafo seleciona o que lhe interessa e aplica sentido a uma imagem.
Um dos mais célebres nomes da história da fotografia, o francês Henri Cartier-Bresson (1908 - 2004), era justamente um "mestre do instante". Segundo Bresson, toda cena teria um ápice (um clímax, como na novela das 8) que seria revelado num momento específico. Caberia ao fotógrafo, portanto, no contínuo do tempo que constitui a cena, apertar o disparador justamente no momento "correto" (isto é, naquele concebido pelo fotógrafo) para congelar o tempo. Isso não é (e não deve ser) puro ato de sorte, mas uma concepção do artista. Para isso, como o fazia Cartier-Bresson, era necessário antecipar e, antes da própria cena ocorrer, no dizer do fotógrafo norte-americano Ansel Adams (1902 - 1984), visualizá-la mentalmente.
Cartier-Bresson: o "mestre do instante".
Atualmente, com todas as facilidades que as câmeras digitais oferecem (sejam compactas ou profissionais), há uma opção cômoda e perigosa: tirar fotos contínuas num segundo, cujo número pode variar segundo o modelo e a marca. Com isso, no dizer de Adams, é arriscado transferirmos para o dedo o nosso cérebro, já que o instante "correto" não seria fruto do conceito, mas da sorte. É claro que todo bom fotógrafo seleciona imagens e há muitas fotografias ruins que são descartadas. Seleção é parte do ser fotógrafo. Mas a câmera não deve ser uma metralhadora (como o lembrou numa metáfora a ensaísta norte-americana Susan Sontag), e sim um instrumento plástico que atende à concepção do fotógrafo.
Pintura (2011)
Autor: Richard Gonçalves André
De fato, como chama a atenção Arlindo Machado em seu livro "A Ilusão Especular", a fotografia tem algo de casual. O instante surge num momento às vezes imprevisível para o fotógrafo. Entretanto, isso não quer dizer que, nesse átimo de casualidade, ele não articule o conceito e a composição da fotografia para "captar" o instante. Embora condicionada pelo acaso caótico, o fotógrafo constrói sentido ordenado na imagem. Na fotografia acima, aguardando a chegada do elevador, olhei para trás e deparei com a cena que, para mim, pareceu algo como uma moldura. O pássaro dentro de uma moldura, a janela, dentro de outra moldura, o enquadramento fotográfico. O acaso deu margem para a interpretação, a interpretação deu margem para o conceito e o conceito deu margem para o enquadramento. Fotografar, de certa forma, é ser senhor do instante e, diria Roland Barthes ("A Câmara Clara"), vencer a morte.
domingo, 10 de abril de 2011
Máscaras (2011)
Autor: Richard Gonçalves André
A fotografia acima é um exemplo de erro de composição, ou pelo menos uma série de erros: a cena está poluída, na medida em que vários elementos interferem na cena, dificultando que o leitor identifique os elementos centrais. Talvez uma mudança de perspectiva permitisse uma melhor composição? Talvez. Mesmo assim, mal composta ou não, a foto tem um conceito: o contraste social.
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Reticências... é bom fazer o leitor da imagem pensar.
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De qualquer forma, minha intenção foi ressaltar o contraste da noiva recebendo com todo o glamour os cumprimentos pelo matrimônio e o vendedor ambulante recebendo os trocadinhos. Mas nada como a semiose, não? Minha amiga Ana Cristina interpretou essa imagem como uma alegoria às máscaras, sejam "reais" (que são vendidas pelo ambulante), sejam sociais, representadas pelo papel desempenhado pelos indivíduos imersos nos ritos sociais. Essa leitura foi a redenção de uma foto mal composta, que deixei de lado durante vários meses por considerar um mau exemplo fotográfico. Enfim, e concluindo, quero crer que mais vale uma má composição com um bom conceito que uma ótima composição com um mau (ou inexistente) conceito.
terça-feira, 1 de março de 2011
Mosaico
Autor: Richard Gonçalves André
Título: Mosaico
O blog quase criou teia de aranha após alguns séculos sem postagens. Depois de uma aula de fotografia prolífica de discussões, retomo o ânimo pra voltar a postar. A imagem acima foi "tirada" (eu prefiro "construída") num hotel paradisíaco. Utilizei abertura f/16, velocidade de 30 segundos, ISO 100 (o que evitou os ruídos ou, em linguagem analógica, granulação), lente 18-55mm e tripé, como não poderia deixar de ser numa velocidade tão lenta. Gostei do contraste entre as cores, principalmente o verde, o azul e o amarelo, gerando um efeito de mosaico relativamente agradável aos olhos.
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